domingo, 27 de novembro de 2011

Hoje deixo por uns tempos de escrever

Volto a escrever no mesmo computador onde comecei. Curiosamente hoje o meu portátil está com algum problema. Não sei se isso será algum sinal, pois é engraçado eu voltar a escrever no computador fixo onde comecei este blog.

Vou deixar por uns tempos de escrever. Preciso de pensar até que ponto devo colocar aqui aquilo que penso ser, bem como alguns momentos que tocam no mais fundo de mim. Agradeço às pessoas que casualmente leram aqui algum texto, e espero que as tenha ajudado a esclarecer as suas dúvidas. Agradeço às três pessoas que deixaram aqui comentários, em especial a uma que desde o princípio me seguiu, e que deixou aqui mensagens que me incentivaram bastante a continuar, obrigado, especialmente a ti, A.

Gostaria de deixar uma frase que me tenha marcado, e veio-me logo esta à cabeça, aquela que Jesus disse a Tomé: "Tomé, tu acreditaste porque viste; feliz de quem acredita sem ver". Penso de não preciso de acrescentar mais nada, só se acredita verdadeiramente quando parece que não há razões para isso.

Acreditemos.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

-Consegues ver-me?
-Hoje trazes uma roupa bonita, o cabelo...
-Não, eu perguntei se conseguias ver-me, estás só a dizer aquilo que observas.
(Deram as mãos)
-Não percebo o que queres dizer...
(Por momentos ficaram a olhar um para o outro, em silêncio. Mesmo sem falar, sentiu que naquele momento a ilha que cada um de nós é desaparece, que aqueles olhos conseguiam ver algo fundo de si, e a solidão abandonou o seu coração)
-Está tudo bem?
-Sim. Tu vês-me.
(Colocou-lhe o braço no ombro, e ficaram ali, dois corpos, uma só pessoa)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O barulho da lâmpada fluorescente acesa era irritante, parecia que brocas trabalhavam perto dos meus ouvidos. O chão estava frio, ligeiramente húmido, com odor a amónia, certamente teria sido lavado recentemente. Ao longe, escutava vozes sobrepostas, que ora se desvaneciam, ora aumentavam ligeiramente a intensidade. As pequenas janelas permitiam que a luminosidade fosse razoável, e retiravam qualquer sentido à existência da lâmpada acesa. A claridade não era muito grande, por isso o dia deveria estar nublado, ou talvez o nevoeiro ainda não se tivesse dissipado.
Passei duas ou três vezes água fria pela cara, e olhei para o espelho. Fiquei a olhar para o meu reflexo como se de um estranho se tratasse, como se estivesse a observar pela primeira vez os contornos daquela face. Percebo que entre mim e aquele do outro lado há uma grande diferença, como se o facto de me olhar ao espelho fosse uma prova de que sou mais que uma sombra, ou digamos, um aglomerado temporário de células, uma imagem efémera, haverá o que quiserem que lhe chamemos: alma, espírito, luz. Se o criador do espelho envenenou a alma humana, talvez numa fase anterior tenha permitido que sintamos que ela exista.
Lavo outra vez a cara como se a água me purificasse, e colocasse a imagem do outro lado como um resíduo cada vez menor, resíduo esse que é ao mesmo tempo a nossa prisão e nossa liberdade, ou retirando a metáfora e perífrase (ou qualquer outro recurso que esteja para aí), chamamos corpo.
Abri a porta e segui durante algum tempo pelo corredor, ouvindo os ecos dos meus passos a ressoarem nas paredes. Ao fundo estavam várias portas, mas não sabia quantas, pois ainda me encontrava a alguma distância. Fiquei indeciso: não sabia se devia seguir ou voltar para trás. Não me lembrava bem de onde tinha vindo, mas (a minha alma) sentia que vinha de um sítio onde me sentia bem, vinha de casa.
Repentinamente, alguém me colocou a mão no ombro. Virei-me rapidamente e a pessoa retirou a mão, percebendo que me tinha assustado. Era alguém que não conseguia perceber bem se era homem ou mulher, o rosto não me parecia nítido, talvez por estar vestido de branco, tal como as paredes estavam pintadas da mesma cor, e talvez porque ainda não me sentia bem acordado, ou melhor, porque me sentia a meio caminho entre o sono e o despertar.
"Precisa de alguma coisa, amigo?", perguntou. No entanto calou-se logo a seguir, e ficou com uma expressão ilegível, como se entendesse que estava surpreendido por encontrar alguém e por esse alguém me colocar logo uma questão e me tratar por "amigo" (quem é, ou melhor, o que é um amigo?). No entanto qualquer coisa nele (ou nela) me parecia realmente amigável (para manter adjectivos do mesmo campo lexical), e decidi responder, "Bem, por acaso não sei muito bem para onde ir...". "Nisso não o posso ajudar, embora entenda que a principal questão para a qual queira resposta".
Por momentos abstraí-me da sua presença, olhei em meu redor, não sei se seria impressão minha mas parece que tinham aparecido mais portas, o que ainda me deixava mais angustiado. Sentia-me vazio, como se nada naquele momento fizesse alguma vez sentido. Vendo-me assim, a pessoa à minha frente retirou a expressão enigmática e afirmou: "É engraçado que tu ultrapassas com relativa facilidade os momentos aparentemente mais difíceis, e nas alturas em que não é exigido quase nada de ti, crias uma data de problemas sem sentido. Nunca te esqueças que os espaços em branco num texto são tão importantes como as letras que vais escrevendo." Dito, isto calou-se, e era perceptível que estava à espera da minha reacção.
Não sabia se deveria responder algo. Tinha-me tratado por tu, como se me conhecesse há bastante tempo, e, apesar de eu não perceber muito bem o que queria dizer, tinha uma profunda sensação que aquelas palavras tinham sentido, que diziam algo sobre mim que eu não queria admitir.
Como resposta lancei-lhe um peremptório "Quem és tu?", ao passo que replicou, com um leve sorriso, "Não tentes lançar as tuas dúvidas para o meu lado. Só te vou responder com aquilo que leste uma vez: Nem tu me podes fazer todas as perguntas, nem eu te posso dar todas as respostas". E voltou ao seu semblante ilegível.
Deixei-me ficar em silêncio. Parecia que aquela me pessoa me estava a dar tranquilidade. Voltei a olhar à volta. Parecia que no fundo o número de portas aumentava cada vez mais. E qual é o meu espanto quando reparo que, nos breves instantes em que me distraí, a pessoa que tão inesperadamente tinha aparecido, tinha desaparecido. Subitamente, aquela sensação de vazio re-surgiu, acompanhada de uma espécie de angústia. Apetecia-me deitar no chão e dormir, sim, dormir e não voltar a acordar...
Mas não podia parar, tinha algo dentro de mim que me obrigava a continuar a andar, mesmo sem saber para onde ir. Comecei a dar os primeiros passos, como se estivesse a aprender a andar pela primeira vez, tentando com todo o esforço manter o equilíbrio, tal qual um ébrio. O chão parecia que me fugia, ora parecia firme, ora gelo, ora que estava prestes a cair para um precipício, mas tinha que continuar.
Levantei a cabeça, precisava de olhar mais longe, precisava de ver mais além, queria talvez encontrar um sentido para isto tudo. Não podia desistir, só dizia para mim mesmo, "Nunca te esqueças de quem és, nunca!", mesmo sem saber quem realmente sou. Podia não ter todas as respostas, podia não fazer todas as perguntas, mas podia ter todas as dúvidas. Mas não será isso que faz tudo valer a pena?

sábado, 8 de outubro de 2011

As Nossas Estrelas

É aqui que os sonhos começam. Foi aqui que muitos homens, olhando a abóbada celestial, obtiam resposta para as suas dúvidas, consolo para as suas mágoas. Preciso de voltar a olhar as estrelas todos os dias. Preciso de voltar ao tempo em que vinha cá fora e ficava em Silêncio com o mundo, sentindo uma espécie de espanto, de maravilha perante o milagre na vida. Mas não basta querer: há alturas em que, por mais que queiramos, por mais que desejemos com todas as forças, aquilo que se sentia não regressa, perde-se na memória, lança-se no esquecimento.

Também é aqui que os sonhos acabam. Mas não acabam porque desaparecem, acabam porque se misturam com a realidade, porque tudo de repente parece ser possível. É aqui que se vê quem acredita, quem olha as estrelas cadentes como um rasto luminoso mágico efémero, ou quem vislumbra somente o resultado do atrito da atmosfera perante fragmentos vindo do espaço.

Quero ficar assim para sempre, como uma criança no baloiço, ouvindo o leve ranger das correntes enferrujadas e gastas, sentindo a doce oscilação, resultado da brisa e do baloiçar das pernas. Dêem-me esperança. Dêem-me força. Dêem-me de volta quem sou. Talvez fosse isto que pedisse enquanto observava o rasto luminoso quase instantâneo. A lua, que vai engordando, assiste tranquila a este espectáculo.


Para o fim fica a melhor estrela: a mais luminosa, um rasto largo, seguro, um percurso não muito longo, mas marcante, se é que podemos utilizar este adjectivo para uma existência mínima. Neste momento não penso em nada, já não quero nada, procuro apreciar o momento, guardá-lo. Sorrio perante a fantasia que flutua no ar, neste momento em que cada lágrima é uma estrela cadente.

sábado, 3 de setembro de 2011

Por favor, hoje não sonhemos.
Não queiramos voar,
Nem sequer tentemos.
Deixemo-nos estar.

Diz-me só que dor é essa,
Que maldição te acompanha,
Quem quebrou a promessa,
Quem disse que ao Tempo ganha.

Vai, eu fico sozinho.
Não mereço nada.
Vou parar no meio do caminho.



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

VII

Feliz o homem que perdeu a esperança,
Mesmo nunca tendo existindo algum.
Lídia, vejamos como o rio flui,
Não queiramos mudar-lhe o rumo.

Não esperes nada do novo dia.
Coloca-te sempre no fundo da escada.
Assim um raio de sol por entre as nuvens
Será a tua única felicidade.

Lídia, esqueçamos o futuro,
Não desejemos o passado.
Vivamos só o presente,
Sejamos puros e inocentes.

Vivamos cada segundo atrás de segundo,
Numa linha fina e invisível
Tecida pelas mãos atrozes do Tempo.
Algures entre a realidade e o sonho.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

VI

Dêem-nos o privilégio de acreditar em nada.
Concedam-nos a mordomia de nada querer.
Deixem as crianças brincar enquanto podem.
Não há nada que o mundo queira mais.

Sozinhos, Lídia, durmamos.
Os deuses que assim nos deixem,
Neste momento em que temos tudo.
Mas continuaremos a precisar de algo mais.


quarta-feira, 27 de julho de 2011


Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.

Mas finge sem fingimento.

Nada esperes que em ti já não exista,

Cada um consigo é triste.

Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,

Sorte se a sorte é dada.

Ricardo Reis

sexta-feira, 22 de julho de 2011

And every breath we drew was Hallelujah


O Hallelujah está mais tranquilo. Vai-se purificando, tal qual uma pedra se vai alisando pela água do rio, vai-se transferindo de um estilo fulgurante Alexandra Burke para um mais suave (e talvez mais profundo) Jeff Buckley. E tal como a pedra sofrerá erosão dia após dia, ano após ano, destinada ao desaparecimento, o Hallelujah irá ficando cada vez mais longínquo, e cada vez mais puro, até acabar por ser esquecido. Mas não foi isso que me fez escrever este texto. A vida passa, as pessoas mudam, o tempo avança, e nós também precisamos de avançar. Muitos Hallelujah’s passaram, muitos momentos foram aqueles em que a dor de ouvi-lo era enorme. Chegou a altura não de esquecer o Hallelujah, mas de colocá-lo no sítio devido, num lugar no coração onde só há magia e sonho, e a tristeza não existe. Chegou a altura de deixar de ter pena de mim mesmo, de amaldiçoar o tempo e lamentar o seu avanço inexorável. No fundo, é aquela sensação de que não se conseguiu ainda ultrapassar, como um marinheiro que todos os dias contempla o oceano imensas horas com saudade da altura em que as ondas eram o seu mundo.

Viveu-se hoje um Hallelujah assim tremido, algures entre o passado e o presente, condicionado por tudo o que o tempo levou com indiferença, misturado por lágrimas tímidas de cinzas e diamantes. Suave, tal como o pé que sente o toque do musgo das pedras do riacho. E não sei que mais hei-de escrever, porque as palavras são limitadas, é como tentar colocar a beleza de um arco-íris e a melancolia da chuva num papel.

Tal como o estudante que promete que para a semana é que se agarra aos livros, sei que o marinheiro continuará a ir para a praia, sentindo a dor da saudade e a alegria do sabor leve a maresia. Mas assim como sei que não irei avançar, também sei que acredito demasiado neste Hallelujah para dizer que ele está destinado ao esquecimento. Aquilo que está no coração acabará por durar para sempre, porque isso fará com que cada gesto seja diferente, cada palavra mais profunda, cada respiração seja Aleluia. Fará com que alguém neste momento escreva um texto que no fundo poderia ser sintetizado numa simples e mágica palavra: Amizade.

Este é o Nosso Hallelujah, para sempre.

sexta-feira, 8 de julho de 2011




Um dia vamos mudar o mundo. Sim, um dia pegamos naquilo que acreditamos, vamos pelas terras fora, mudamos as pessoas, e tornaremos o mundo um lugar melhor, seja lá o que isso for.
Pedalaremos pela amizade, por todos os momentos bons e maus, por todas as coisas insólitas que ninguém mais fará, porque somos únicos e verdadeiros, seja lá o que isso for.
Caminharemos sentindo o aroma suave da erva ressequida pelo calor, observando a paisagem, sentindo a suave brisa na face, gritando para o vazio onde a solidão reina.
Subiremos montanhas, caminhos íngremes, e quando chegarmos ao alto, com a ilusão de vitória, olharemos para a estrada que fizemos com dificuldade, e para o longínquo horizonte, onde imaginaremos o mar, ou planícies douradas.
Continuaremos mesmo quando as pernas pedem descanso, e o corpo tem uma inércia enorme, mas nada disso é importante, porque estamos juntos.
Depois perceberemos que a verdadeira vitória acontece quando subimos as montanhas mais altas do mundo, que são aquelas que existem dentro de nós. E também que o sono ajuda o corpo cansado, mas talvez ainda atormentará mais a alma.
Faremos piqueniques nos lugares mais esquisitos, e ficaremos a apreciar cada momento, sabendo que tudo acaba, ao mesmo tempo que falamos como crianças, tentando recuperar a inocência do passado.
Seremos vírgulas, em vez de pontos finais,
Seremos sempre inocentes, no fundo. Enquanto tudo viver no coração, seremos todos sempre as crianças ingénuas e felizes, e o passado deixa de existir, porque é presente, é magia e sonho.
Finalmente, perceberemos que nada mais importa: o que interessa é viver cada momento tocando a eternidade de cada riso, de cada esforço, de cada palavra. O que interessa é seguir o caminho, lado a lado, pedalando, correndo, andando, descansando, mas nunca desistindo.

E, quando chegarmos ao topo da montanha de nós próprios, que subimos a pensar que a Felicidade se encontrava lá em cima, descobriremos que Ela esteve sempre ao nosso lado, ora nos acenando, ora nos tocando levemente na face.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Embriaga-te

Deves andar sempre ébrio. É a única solução. Para não sentires o tremendo fardo do tempo que te pesa sobre os ombros e te verga ao encontro da terra, deves embriagar-te sem cessar: com vinho, com poesia, ou com virtude. Escolhe, mas embriaga-te.
E se alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre as verdes ervas de uma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez atenuada, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que passou, a tudo o que murmura, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala; pergunta-lhes que horas são: "São horas de te embriagares. Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem descanso. Com vinho, com poesia, ou com a virtude."

Charles Baudelaire

domingo, 29 de maio de 2011

Vá lá, deixa-me dormir.
Estou tão cansado...
Sim, a cabeça também me dói,
O corpo reclama,
Mas o que me cansa a sério é o mundo.
Podia ser só um fechar rápido de olhos?
Prometo que não é muito tempo,
É só para tocar a felicidade um pouco.
Alguém me pede que não haja barulho?
Está alguém lá ao fundo,
Parece que afia qualquer coisa,
Podia parar um pouco,
Para haver ausência de ruído,
Já que Silêncio não há.
É que eu só queria adormecer...
Não preciso de almofada, nem de cobertor,
Só de lençóis de esperança
E um colchão feito de força de vontade.

Está a chover lá fora, o vento está forte.
Troveja fortemente.
Quando era menino,
A minha mãe dizia-me que a trovoada era Deus,
Que ralhava connosco porque nos tínhamos portado mal.
Então eu tapava os ouvidos,
Para não ouvir os trovões, ou melhor,
Para não ouvir Deus,
E pedia-lhe que nos perdoasse a todos,
Que deixasse de ralhar, que nos portaríamos bem.
Depois disseram-me que não era Deus,
Era qualquer choque entre nuvens saturadas,
Uma questão qualquer da ciência,
Que me encolheu Deus.

Gosto da chuva, das tempestades.
Não porque depois da tempestade vem a bonança.
O que gosto é de sentir esta espécie de ambiente melancólico,
Que me deixa meio feliz, meio atormentado.
As rajadas recitam uma melodia bonita no telhado,
Dou por mim a sorrir,
Esqueço-me que queria adormecer.
Agora já não tenho medo dos relâmpagos,
Que rasgam o céu e iluminam a noite,
Até gosto de ver as suas formas instantâneas.
Lá ao fundo está uma luz,
Será um candeeiro de rua, ou Deus?

Caiu um relâmpago aqui perto,
A luz apagou-se, Deus deixou-me.
Não há ninguém à minha volta,
Estou sozinho e Deus faz-me companhia,
Mas lá em cima ralha, pois, os homens portaram-se mal outra vez.
Tenho medo da trovoada.
Tapo os ouvidos, como se fosse novamente aquela criança,
A chuva embala-me, o vento acaricia a pele,
E eu só quero dormir.
Dormir é a doce inocência,
E a doce inocência é sonhar,
E enquanto lentamente vou fechando os olhos,
Deus pára de ralhar,
A luz volta a acender-se,
E eu durmo.

sábado, 30 de abril de 2011

Reminescências


Quando se é jovem, parece quase impossível acreditar que um dia iremos ter dificuldades em fazer coisas tão simples como andar. Era isso que José sentia agora na pele. Era uma enorme dificuldade subir aqueles míseros 3 degraus da entrada da casa, ora eram os joelhos que vacilavam, ora as pernas tinham uma inércia enorme... Realmente o nosso corpo é lixo, por isso estabelecer as nossas relações com os outros baseando-nos maioritariamente nele é um erro, mas não interessa, somos fracos, e se o essencial é invisível aos olhos, nem sempre conseguimos aplicar esta máxima.

Mas não era isso que atormentava hoje José. Sabia que em breve seria Sombra, Nada, Não-existência. Não queria pensar nisso, pois entrava em pânico.

Hoje não tinha que fazer um esforço para não pensar na morte. Hoje, involuntariamente, o seu pensamento ocupava-se de outra coisa. Tinha sonhado com Ela. Não com a morte, mas sim com aquela rapariga que ia no seu autocarro para a escola. Lembrava-se perfeitamente da sua face, da forma como andava, da forma como ela ia a olhar pela janela no autocarro, imersa nos seus pensamentos, com um sorriso natural nos lábios. Lembra-se de naquela altura ter pensado que se os Anjos existiam, deviam ser parecidos com Ela.

A paragem ainda se situava a cerca de 200 metros da escola. Então José deixava-a sair sempre primeiro do autocarro, e ia sempre atrás. No Inverno sorria quando a via ir bastante agasalhada, cheia de frio, com as pequenas gotículas do vapor de água da respiração a condensarem-se rapidamente. No Verão, sorria quando admirava a sua postura descontraída, a forma como ao de leve puxava uma madeixa de cabelo para detrás da orelha, a maneira como os braços finos e suaves se mexiam quando andava.

Queria-lhe dar uma flor. Um dos seus vizinhos tinha no jardim rosas de todas as cores: brancas, amarelas, cor-se-rosa e, claro, vermelhas. Não sabia qual iria escolher. Então pensou perguntar à sua avó, já que se sentia mais à vontade com ela para estas questões. Lembrava-se perfeitamente do que a avó lhe tinha dito: "Independentemente daquilo que escolhas, o mais importante é que sejas sincero, que lhe dês a rosa, como se lhe desses o teu coração. No meu tempo, houve um rapaz que me tinha comprado uma flor de propósito, e o teu avô deu-me uma simples flor que nascia em qualquer lado, no campo. A diferença está, acima de tudo, naquilo que ela vir nos teus olhos quando lha ofereceres."

Tinha ido para casa a reflectir bastante no que a avó lhe tinha dito. Já saberia o que ia fazer: não escolheria nenhuma cor, no momento em que a colhesse o seu coração escolheria por si.

Há uns dias, Ela tinha deixado cair o seu gancho do cabelo enquanto andava, aquele em forma de borboleta. José agarrou-o e foi-lhe entregar. Tocou levemente nos seus dedos, macios como seda. Ela tinha agradecido, "Obrigado", e sorriu. Ficaram uns segundos a olhar um para o outro, em Silêncio. A campainha da escola tocou. José não tinha dito nada, sentia-se paralisado, e não percebia muito bem porque é que Ela tinha este efeito nele.

Seria hoje. Pela primeira vez, tinha ficado um pouco de tempo ao espelho, normalmente não ligava nada a olhar-se ao espelho e sua mãe é que o penteava. Hoje tinha-se penteado, a pensar se Ela gostaria do cabelo mais puxado para o lado ou não. Mal chegou ao jardim, soube logo qual seria a rosa que iria apanhar. Destacava-se uma rosa de um vermelho vivo, nem muito aberta nem muito fechada, com uma pequena gota de orvalho nas pétalas. Por momentos teve pena da rosa, iria morrer por ser colhida. No fundo, a Beleza é assim, se a prendermos ela morre.

Mas Ela não tinha vindo. Em tantos dias, como é que pode não ter vindo precisamente no dia em que lhe iria oferecer a rosa? Nunca mais teve coragem para voltar a trazer a rosa. Lembra-se que, numa tentativa de não a deixar morrer, enterrou-a perto da paragem. A rosa morreu, mas no ano a seguir uma roseira tinha rebentado.

José voltou a si, e olhou para aquilo que era agora sentindo todo o peso do passado. Olhar para o passado tem a parte boa de poder recordar os momentos de felicidade inconsciente, e a parte má de fazer sentir que a realidade actual é triste. É como olhar para uma árvore seca e imaginar todas as folhas que já teve, pensar nas flores que terá dado na Primavera, em todos os pássaros que terão lá feito ninhos, em todos os meninos que deverão ter oferecido flores debaixo delas. Por momentos, tinha voltado a ser uma criança inocente. No fundo, foi melhor assim. E José não pensava assim porque o mais certo seria Ela nem querer aceitar a rosa, o seu coração dizia-lhe que Ela ia gostar. Mas, e depois, se acabasse a magia de um dia para o outro? Se descobrisse que afinal não gostava assim tanto dela? Ou mesmo se agora estivessem os dois juntos, sentados num banco de jardim, agora, idosos, ele voltar-lhe-ia a dar uma rosa e lembrar-se-ia de quando eram crianças e então perceberia que o tempo passa, e não deixa nada. Todas essas dores seriam piores que a dor de não lhe ter dado a rosa. Assim, poderia imaginá-la sempre jovem, a sua memória seria sempre idílica. Poderia imaginar que seriam tudo, doces crianças inocentes vítimas do destino, e no fundo, não foram nada, foram um Silêncio quando lhe apanhou o gancho.

José olhava para o que era agora, sentia-se fraco, doía-lhe o corpo todo. Mal sabia que este era o último minuto em que os seus pulmões sentiriam ar, em que as suas mitocôndrias fariam a respiração, o último minuto em que as moléculas, formadas por átomos, formados por electrões, protões e neutrões, formados por quarks, e não saberemos se haverá algo mais para além disto, formariam um ser que tem consciência de si, um ser que se chama José e que nunca deu uma rosa a uma rapariga que lhe sorriu uma vez.

José sentia-se tranquilo. Sentia uma paz que nunca tinha experimentado. Não sentia o corpo, parece que estava a flutuar. De repente era outra vez uma criança, ia no autocarro, sentado ao lado dela. Chegaram à paragem, saíram os dois, e foram de mãos dadas para a escola. Ela deu-lhe a mão como se tivesse sido algo de natural, assim como uma folha que cai descansa na terra húmida. “Talvez o céu seja o sítio em que vivemos aquilo que devia ter acontecido, talvez o céu seja o sítio onde a felicidade é inocente e nos sorri”, pensou José.

Acordou. Afinal só tinha adormecido. Nunca tinha perguntado o nome a Ela. Nem sequer isso fez. Mas agora o seu coração sabia o nome dela, e talvez tenha sabido sempre, José é que só deu ouvidos completamente ao seu coração quando escolheu uma rosa. Agora sabia, “Ela chamava-se Rosa”.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Eli, eli, lamá sabactani


O tempo estava um pouco quente para esta altura do ano. Já vinha a andar há bastantes horas e os pés já começavam a ficar em sangue, mas nada disso o preocupava, tinham-lhe roubado as sandálias um dia de noite e não tinha dinheiro para comprar outras. Ia passando a mão ao de leve pelas espigas de trigo enquanto andava, este ano iria ser produtivo, e as pessoas agradeceriam a Deus por um ano de fartura, certamente sacrificariam mais cordeiros, pombas e coisas afins. Nunca tinha percebido muito bem a lógica dos sacrifícios: para ele Deus não era algo que se exigia que se derramasse sangue em Seu nome, mas sim Aquilo que está dentro de cada um de nós, em cada lágrima de alegria e em cada lágrima de tristeza, em cada momento de silêncio e em cada momento de agitação.
Sabia que no fundo não compreendia Deus, nem sequer sabia se acreditava verdadeiramente nele. Tinha bastantes dúvidas, e não sabia se tinha alguma vez sentido Deus realmente. Não percebia como era mais fácil para as pessoas ver-se Deus num pôr-do-sol do que num daqueles pastores que viajam de terra em terra, com as suas ovelhas, seu sustento e sua companhia. Via Deus quando olhava o pastor e o via cuidar duma ovelha doente, sabia que não o fazia porque estava ali algo que lhe daria sustento, mas porque se encontrava ali um ser que sofria, e que merecia toda a dignidade e respeito. Via Deus quando olhava os olhos do pastor e via o carinho, o brilho, via que todos os sonhos do Mundo podiam estar agora naquele homem.

Finalmente estava quase a chegar. Havia uma pequena subia íngreme e depois la estava: o monte Gólgota. Queria ver aquele homem, dito Jesus, o Nazareno. Já o tinha encontrado uma vez, quando ele andava leproso. Nessa altura Jesus disse que o curava, no entanto ele recusou, disse que precisava de acreditar sem ter provas, precisava de ter fé sem que lho tivessem demonstrado. Saberia que iria morrer e poderia parecer o mais ingrato dos homens, mas achava que não devia a creditar em Jesus porque o tinha curado, queria acreditar Nele. Jesus assentiu, não o curou. No entanto quando acordou no outro dia a doença tinha desaparecido, e sabia que tinha sido Ele.

Tinha chegado a tempo. Jesus ainda se encontrava vivo, na cruz. Queria-se ajoelhar diante dele, e chorar por todos os momentos que tinha passado, porque tinha encontrado a sua terra prometida. Achava curioso o modo como as pessoas o tinha encarado: passavam anos à procura de um Messias, e quando Ele aparece não acreditam. No fundo todos os homens são assim: passam a vida a entreter-se e quando surge a oportunidade de irei além da sua vida vulgar, de mudar o mundo, de encontrar o amor, de descansar em Deus, não acreditam, fogem, desistem.

Chegou-se o mais perto possível. Alguém tinha saído há pouco com um balde com vinagre e água. Havia uma placa que dizia: "Jesus de Nazaré, o Rei dos Judeus". De cada lado Dele estavam a ser crucificados mais duas pessoas. Jesus, no meio de tanto sofrimento, exclamou "Meus Deus, Meu Deus, porque Me abandonaste?". Não sabia se era um devaneio, ou se o próprio Filho de Deus estava agora com dúvidas de tudo. Olhando para Ele na cruz, pensou que no fundo funcionava como aqueles animais que eram sacrificados: Ele era o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do Mundo.

De repente parou, admirado. Jesus, nos seus últimos momentos de vida, olhava para ele. Reconhecia-o. Caiu no chão e chorou. Jesus tinha expirado pela última vez. Não precisava de saber que Ele iria ressuscitar. Acreditava.

sábado, 12 de março de 2011

Urgente: Sobre o Merkl Sinal


Sempre que as finanças portuguesas estão em apuros, um sinal aparece no céu: é o Merkl sinal, o sinal projectado por Teixeira dos Santos na abóbada celeste, que consiste na imagem desta super-heroína alemã. Mas esta mulher com super-poderes, que consegue que o seu país suba acima de 2 por cento no meio de uma Europa com um crescimento anémico, não acode o Ministro das Finanças sem algo em troca, pois é, tudo tem um preço na vida, excepto aquilo que levam ao Fernando Mendes no Preço Certo. Ao contrário do que estão a pensar, Merkl não quer passar uma noite escaldante com José Sócrates, nem com o seu clone Pedro Silva Pereira, mas sim algo que inunda os nossos noticiários: a austeridade.

Este palavrão, a austeridade, tenta ser uma espécie de lipo-aspiração para uma pessoa gorda, que começa a sofrer de obesidade mórbida, e que quase nunca consegue perder os ácidos gordos e triglicerídeos: é a despesa pública.

Aviso-o já, se se deparar com ela na rua, fuja! Apesar da sua aparência inocente e seráfica, ela mais tarde ou mais cedo irá ao seu bolso, sob a forma de impostos e outras medidas camufladas, tornando a sua carteira num albergue de teias de aranha. Fuja, se possível para outro país, se já não tem dinheiro feche-se na casa de banho (ficar lá trancado não serve de nada, mas sempre se distrai com o mau cheiro).

Esta pessoa perigosíssima, a despesa pública apesar de corpulenta, movimenta-se com celeridade e é omnipresente: está em vários lados ao mesmo tempo, desde a panóplia de organismos públicos, passando pelo BPN, até aos estudos e processos de consultadoria atribuídos sem concurso. E porque depois de uma notícia má vem outra a seguir, tenha cuidado porque a despesa pública deu à luz um filho, que tem vindo a criar desde os anos 70, e é, diria, mais assustador que a sua progenitora. Esta criança é maléfica, gosta de submarinos como quem gosta de gomas, idolatra juros das obrigações do tesouro acima de 7% como quem adora chocolates, e à sobremesa o que prefere são recessões. Já deve ter percebido de quem se trata, claro, é o défice público.

Ele possui um primo, que tem vindo a crescer igualmente forte e saudável, aproximando-se de 10% do PIB: o défice externo. Mas não dispersemos, voltemos ao défice público. Esta criança todos os anos vai construindo um robot que ameaça ser o expoente máximo da sua malvadez, com braços de obrigações, pernas feitas de passivos da Administração Central, e tronco volumoso de títulos de dívida de curto prazo e bilhetes do tesouro, este robot denomina-se dívida pública, vale mais de 80% do PIB e ameaça num futuro próximo ser devastador, caso não se impeça que o seu criador o acabe de construir.

A super-heroína Merkl possui um animal altamente exigente e hostil: é a espécie Jeanus Trichetidae, um canino que agora mostra os dentes, prometendo morder-nos elevando os juros. Para consolo, digo-vos que o Merkl sinal é emitido com energia proveniente de um parque onde Sócrates gosta de brincar com os seus blindados, o parque eólico. Aviso-vos de que de nada adianta materializar a raiva pegando em martelos para destruir o Merkl sinal, pois não é essa a solução. Pensa-se que já se adianta com outra solução: criar o Coelho sinal, não dirigido a Passos Coelho, mas sim o sinal que se emite para o céu pedindo ajuda a José Manual Coelho, o homem que nos iria salvar da corrupção e trazer a justiça ao nosso país, seja lá o que isso for. Talvez se, de há uns tempos para aqui os nossos governantes, que eu chamarei agentes maximizadores de votos (AMV), tivessem sabido investir, esta criança tivesse sido logo abortada. Estes AMV são seres inteligentes e bastante matreiros, que dão torresmos, batatas fritas e outras gorduras à despesa pública, principalmente nos anos de eleições, coincidência, não?

Esta mensagem é para todos os portugueses: não há nenhum sinal que mande vir nenhum super-herói que nos salve, nem podemos contar com os AMV. Para além de revolta, temos que mudar de atitude, ter uma cultura de trabalho, pois é isso que mais irrita a criança do défice público. Só para terminar, queria só apresentar-vos mais um interveniente, que é também bastante nosso conhecido: são os Mercados. Não é substantivo singular, não são uns mercados, são os Mercados, que nos massacram com juros que nos levam a pagar o dobro daquilo que pedimos daqui a 10 anos, e são implacáveis. Nós já os ajudámos em 2008, quando tinham problemas, mas eles têm a memória curta, no fundo os valores pelos quais se regem são idênticos à maioria dos AMV, ou seja, são inexistentes. Confesso sinceramente que enquanto ando na rua a coisa de que tenho mais medo é de que me apareçam os Mercados à frente mal vire uma esquina, se os vir, ao tentar fugir, não faça movimentos bruscos, eles são bastante temperamentais e instáveis. Acima de tudo não fale porque lá dizia o nosso José (Durão) Barroso: temos que ser comedidos nas palavras, porque os Mercados nos estão a ouvir. Ora se o Presidente da Comissão tem medo deles, o que há-se ser de nós!

Deixo este último parágrafo para deixar duas notas: fiquem descansados que o Coelho sinal já está a ser construído, se for como uma obra pública espera-se que esteja pronto daqui a daqui a 10 anos, o que sempre é menos que 11, penso eu, que nunca fui muito bom a fazer contas. Talvez amanhã me apresente no Ministério das Finanças, devem-me dar logo um emprego. A outra nota é que por mais austero que o ambiente pareça, a gente vai continuar, não dramatizemos, já vivemos coisas bem piores, a gente vai continuar, pá.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Sophia


Talvez não haja morte.
(Olho para o teu quadro).

Talvez seja só a vida que serenamente
decida abandonar o corpo.

Tranquilamente, tal como uma borboleta que pousou numa flor,
e finalmente a decide deixar.

Sem dramas, com a suavidade de um toque de seda,
A borboleta deixa a flor.
Não há nenhuma mulher vestida de preto, nenhuma caveira,
Nenhuma ceifeira.
(Sinto o frio do vidro da moldura
E o calor das memórias de um futuro que já passou).

Só uma borboleta que deixa uma flor,
Com toda a indiferença em relação a tudo
o que sentiu e experimentou.
Depois vai voando pelos campos verdejantes,
Rumo ao arco-íris onde nada existe.
(Vêm-me lágrimas aos olhos,
não sei se de tristeza ou alegria).

Não me enganas, Sophia.
Vejo nos teus olhos todas as promessas de Verdade,
Na tua face a porta para um mundo onde se pode tocar
o tecido de veludo e cetim que é a felicidade.
(Felicidade? Sim, é isso que promete o rosto atrás do vidro).

Nada disso é real.
Pois vejo todas as pessoas que enganaste
que levaste à perdição em nome de uma causa maior,
que destruíste e usaste.
(Será mentira? A tua foto é tão inocente).

Mas o que é real, Sophia?
Tu sabes mostrar aos homens que nada é certo,
que tudo é relativo,
que somos simples marionetas
que tentam ganhar vida própria.

Talvez nada valha a pena.
(Viro a moldura, coloco-a no chão).

Mas não fiquemos parados, Sophia.
Viajemos pelo mundo,
Estudemos Matemática, Física, Filosofia,
Ajudemos pessoas,
Caminhemos pela areia,
Subamos as montanhas.
(Tenho que atirá-la fora, já não me serve de nada.
O passado não volta, e recordar é sofrer).

E depois de isto tudo,
percebamos ver este pôr-do-sol de mãos dadas
é o momento mais próximo que estamos da Verdade.

Então eu saberei que tu me enganaste
E aperceber-me-ei que sempre estive e estarei sozinho.
No entanto olharei para ti, e sorrirei.

Tentarei esquecer isto tudo,
Afagando-me no teu ombro.
Tentarei dormir.
(Sim, nunca mais a virarei).

No fundo, talvez o sentido da vida
seja acreditar.
Se acreditarmos tudo faz sentido.
Acima de tudo, foi isso que aprendi com(tigo) Sophia.

Sei que independentemente do que faça,
me escapará sempre algo,
como se, (tu), Sophia nunca tivesse(s) sido minha.
Enquanto levanto a moldura e a coloco na cómoda,
não sei se as borboletas que vejo
são vida a voar devido à fantasia
ou desilusões, com asas de sonhos quebrados, esquecidos.
Sabes Sophia, nunca seremos mais do que crianças.