É aqui que os sonhos começam. Foi aqui que muitos homens, olhando a abóbada celestial, obtiam resposta para as suas dúvidas, consolo para as suas mágoas. Preciso de voltar a olhar as estrelas todos os dias. Preciso de voltar ao tempo em que vinha cá fora e ficava em Silêncio com o mundo, sentindo uma espécie de espanto, de maravilha perante o milagre na vida. Mas não basta querer: há alturas em que, por mais que queiramos, por mais que desejemos com todas as forças, aquilo que se sentia não regressa, perde-se na memória, lança-se no esquecimento.
Também é aqui que os sonhos acabam. Mas não acabam porque desaparecem, acabam porque se misturam com a realidade, porque tudo de repente parece ser possível. É aqui que se vê quem acredita, quem olha as estrelas cadentes como um rasto luminoso mágico efémero, ou quem vislumbra somente o resultado do atrito da atmosfera perante fragmentos vindo do espaço.
Quero ficar assim para sempre, como uma criança no baloiço, ouvindo o leve ranger das correntes enferrujadas e gastas, sentindo a doce oscilação, resultado da brisa e do baloiçar das pernas. Dêem-me esperança. Dêem-me força. Dêem-me de volta quem sou. Talvez fosse isto que pedisse enquanto observava o rasto luminoso quase instantâneo. A lua, que vai engordando, assiste tranquila a este espectáculo.
Para o fim fica a melhor estrela: a mais luminosa, um rasto largo, seguro, um percurso não muito longo, mas marcante, se é que podemos utilizar este adjectivo para uma existência mínima. Neste momento não penso em nada, já não quero nada, procuro apreciar o momento, guardá-lo. Sorrio perante a fantasia que flutua no ar, neste momento em que cada lágrima é uma estrela cadente.
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