terça-feira, 29 de junho de 2010

Fim


Caramba, perdemos.
O senhor da banca de jornais bem tinha razão quando disse "o 24 Horas acabou hoje para não ser sozinho com Portugal". Não, disse eu, "Portugal logo vai ganhar!", acreditava, acreditei até ao fim e continuarei a acreditar. Não quero falar de opções tácticas, da falta de qualidade de certos jogadores, da simples incapacidade.
Tristeza, acima de tudo. É assim um jogo, é assim a vida. Amanhã voltaremos ao nosso país normal, à descrença geral, às criticas que nada constroem. Fim. Novo começo, nova oportunidade, continuar a tentar, continuar a errar, continuar a aprender, manter a cabeça levantada. E, por Fim, vencer.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Abrigo


E fico assim, sentado, junto ao muro.
Fico a olhar para ti,
A ver o meu reflexo no teu olhar.
Dás-me a tranquilidade que preciso,
Dás-me o sorriso que me foi tirado,
Dás-me a criança que fui,
Se não me dás, ajudas a que dê a mim mesmo.

Fico assim, a espera que digas alguma coisa
E vou saboreando o silêncio
Imagino as palavras que vamos trocar
E aquelas que nunca trocaremos.
Penso em todas as promessas
Que serão escritas na areia,
E em todos os momentos, gravados no coração.

Fico assim, e encostas a tua cabeça no meu ombro,
Olhamos as estrelas para alem do céu azul,
Olhamos as nuvens, imaginamos com que se parecem.
Vemos elefantes, gigantes, rostos,
Que se vão desfazendo com o vento
Mas não desaparecem,
Só se transformam noutras formas.

Fico assim, e não sinto o tempo passar,
Nós estamos a iludi-lo e a ignorá-lo.
Ele far-se-á sentir nas rugas no nosso rosto.
Mas agora não, somos só nós,
Em comunhão com o mundo.

Fico assim, sentido o calor do teu corpo,
Protegendo-nos um ao outro
Da crueldade dos homens,
Revivendo a ingenuidade,
Tocando o arco-íris dos nossos sonhos.

Fico assim, os tons do horizonte começam a ficar alaranjados,
O sol vai-se por mais uma vez em milhões de anos
Hoje tem mais duas pessoas a contemplá-lo.
Dizes que ficavas assim para sempre,
Só respondo com um sorriso triste
Porque também sinto o mesmo,
Mas sei que é impossível.

Fico assim, e aparecem as primeiras estrelas,
Do outro lado do pôr-do-sol
A tua respiração acalma
E adormeces nos meus braços com um sorriso nos lábios
Beijo-te a testa, encosto-me mais a ti.
Ouço o ruído silencioso da noite
E apercebo-me da ilusão do mundo.
Cai uma estrela cadente.
Peço o desejo de ficar para sempre assim.

Fico assim, e a única coisa que fica para sempre assim
É o calor da tua alma na minha.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago


Seria muito difícil não deixar uma palavra para este senhor. Levou o nome de Portugal longe, também pelo prémio Nobel, que lhe deu projecção, mas acima de tudo, pela sua escrita. Porque é preciso perceber que Saramago não foi um grande escritor por receber o prémio Nobel, mas recebeu um prémio Nobel por ser um grande escritor.
Os meus conhecimentos sobre a sua obra são muito superficiais, só algumas reflexões. É óbvio que haverão sempre coisas em que não se concordam, por exemplo no meu caso a ideia de Portugal e Espanha se unirem num só país, ou as tão polémicas ideias do livro "Caim". Já antes Saramago tinha dito que não compreendia que se Deus existisse, como poderia criar um mundo com tanto sofrimento (não será a negação também um caminho para Deus?). Mas o que é de salientar é que uma pessoa que nasce numa aldeia pequena, de origens humildes, pode chegar tão alto. Foi um autodidacta, com uma maneira de pensar avançada, tudo palavras que já foram ditas, e que espero que tenham sido proferidas com sinceridade, porque são verdadeiras.
O saramago é uma planta, que nasce espontaneamente normalmente nas sementeiras, mas que não é invasiva. Também José Saramago se tornou o que é, de forma natural. Lembro-me de uma frase n' "O Memorial do Convento": "Só os pássaros voam, ou os homens, quando sonham". Agora, Saramago está a voar pelos seus livros, por todas as pessoas que o homenageiam, uma energia que nos faz Sonhar, para além da morte.

domingo, 13 de junho de 2010

Ítaca

Quando partires, em direcção a Ítaca,
que a tua jornada seja longa
repleta de aventuras, plena de conhecimento.

Não temas Laestrigones e Ciclopes nem o furioso Poseidon;
não irás encontrá-los durante o caminho, se
o pensamento estiver elevado, se a emoção
jamais abandonar o teu corpo e o teu espírito.
Laestrigones e Ciclopes e o furioso Poseidon
não estarão no teu caminho
se não os levares na tua alma,
se a tua alma não os colocar diante dos teus passos.

Espero que a tua estrada seja longa.
Que sejam muitas as manhãs de Verão,
que o prazer de ver os primeiros portos
traga uma alegria nunca vista.
Procura visitar os empórios da Fenícia
recolhe o que há de melhor.
Vai às cidades do Egipto,
aprende com um povo que tem tanto a ensinar.

Não percas Ítaca de vista,
pois chegar lá é o teu destino.
Mas não apresses os teus passos;
é melhor que a jornada demore muitos anos
e o teu barco só ancore na ilha
quando já estiveres enriquecido
com o que conheceste no caminho.

Não esperes que Ítaca te dê mais riquezas;
Ítaca já te deu uma bela viagem;
sem Ítaca, jamais terias partido.
Ela já te deu tudo, e nada mais te pode dar.

Se, no final, achares que Ítaca é pobre,
não penses que ela te enganou.
Porque te tornaste um sábio, viveste uma vida intensa,
e este é o significado de Ítaca.

Konstantinos Kavafis (1863-1933)

(o problema é que queremos sempre mais de Ítaca, e esquecemo-nos do Resto, e não, isso não é sonhar)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas

Portugal.
Ultimamente temos estado nas luzes da ribalta das agências e mercados financeiros, e não é pelas melhores razões. A economia ainda está num estado anémico, sem saber bem se já saímos ou não da crise. Continua a necessidade de apertar mais o cinto, depois de anos a viver acima das possibilidades e com problemas de competitividade. A política também está numa situação delicada, e pouca gente continua a acreditar nos políticos, e vêem os seus salários espremidos.
O que é ser português? Associadas a todas estas questões, há uma identidade por decifrar e por descobrir. Pequenos pormenores podiam ser importante para virar este ponto: por exemplo o ensino da história portuguesa durante o ensino básico. Muitas são as vozes que criticam que o enfoque na história de Portugal dos últimos séculos é fraca. Ora, conhecer a nossa história é relevante para construirmos a nossa identidade, e perceber o modo como chegámos aos dias de hoje, e todas as coisas que, ao longo de muitos anos, estão incorporadas nos "genes" nacionais, porque não nascemos hoje, temos uma História que nos preenche. Mesmo assim, haverá sempre grandes Homens e acontecimentos que ignoraremos. Mas a maior diferença está na mentalidade das pessoas, no capital social, se mudarmos certas atitudes no nosso quotidiano, poderemos avançar e crescer. Nós de longe que somos capazes disso, estamos sempre a criticar e a dizer que não somos capazes, mas no fundo acreditamos, só temos é falta de confiança. Basta haver um pequeno "clique" que nos faça trazer essa crença para tudo o que fazemos. A união em torno da selecção é um exemplo disso, a forma como vibramos, como apoiamos, mostra que tudo é possível, e que por mais pequenos em tamanho que sejamos, somos Grandes, sim, porque isso é Portugal: Grandeza, um povo que já resistiu a tanta coisa, que apesar de tantas adversidades, continuou a vencer. Se já passámos por tanta coisa bem pior, não há-de ser hoje que iremos cair. Continuaremos a procurar Algo que vai mais além das coisas materiais. Como Pessoa escreveu, "Senhor, falta cumprir-se Portugal!"

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Polémicas

Agora anda por aí uma polémica sobre uma professora de Mirandela que se despiu para uma revista masculina. Coloca-se em causa se esta professora não devia ser demitida. Em termos de valores, esta situação é muito similar com uma que foi bastante mediática, só que noutro país: o ex-capitão da selecção inglesa, Jonh Terry, perdeu a braçadeira devido ao facto de ter traído a sua esposa, com a esposa de um companheiro de selecção, Wayne Bridge.
As questões de fundo para estas duas situações são as mesmas: por um lado diz-se que a vida privada de uma pessoa e extra-profissão nada tem que ver com a actividade profissional, e por isso não há problema. Por outro lado, ser professor ou capitão de selecção tem uma série de conceitos e valores implícitos e associados, como o carácter, a honra, a honestidade, o exemplo que tem que dar para os seus adeptos e cidadãos ou para os seus alunos e pais. A questão que se coloca é qual dos pratos desta balança é que pesa mais. Na minha opinião, concordo com o facto de terem retirado a bandeira de capitão, porque para ser capitão de selecção não basta ser bom jogador, tem que se ter uma personalidade forte e, acima de tudo carácter. Tem que se perceber que numa posição destas somos a referência para muitos jovens e uma forma de os ajudar a criar bons valores. Uma situação ainda pior aconteceu com Tiger Woods, que a meu ver corrigiu da melhor maneira o que tinha feito (8 ou 9 "facadinhas" não é para qualquer um), mas o que falta ver é se volta ou não a cometer os mesmos erros.
Quanto à professora de Mirandela, retirando aqueles comentários habituais do tipo "com uma prof destas é que dá gosto ter aulas", acho que ser demitida ou não já não é importante. A polémica que se gerou à volta dela foi bem mais positiva que negativa: passou a ser uma referência para a diversão nocturna e media de interesse masculino. E isto não é algo isolado, é um sintoma preocupante da sociedade em que vivemos.
Quando alguém quiser aumentar os seus rendimentos, basta inventar algo que gere polémica e passará a ser o centro das atenções, o que é bastante lamentável. Mas afinal ela não é bem professora, e deixarei a opinião de Miguel Sousa Tavares, retirada do Expresso de Sábado, que toca neste ponto:

"O que mais me despertou a atenção na maravilhosa aventura programada da célebre professora stripper de Mirandela, foi descobrir duas coisas: uma, que ela, afinal, não é professora, mas sim "monitora de tempos livres"; a outra, que tem um ordenado por inteiro mas um horário de apenas seis horas semanais, as quais pode acumular todas num dia, ficando com o resto da semana livre. Será que se eu me despir, também me arranjam um emprego destes?"

Ora aqui está uma boa sugestão que eu irei anotar quando entrar no mercado de trabalho. Tristeza...

domingo, 6 de junho de 2010

Ricardo Reis Revisited II

Duas semanas passaram, Lídia,
Mas parece uma eternidade desde que partiste.
O tempo passa mais devagar
Mas o teu perfume continua com a mesma intensidade.

O aroma dos teu cabelos continua
Na almofada, no baloiço, no banco de jardim.
E quando alguma folha cai das árvores
E passa ao de leve no meu rosto

Parece o toque da tua mão.
Acho que o rio e as flores
Têm saudades tuas,
E tentam-me a passar a sua tristeza.

Há dois tipos de tristeza:
Uma, é a passageira,
Mais tarde ou mais cedo
Será tomada pela alegria

É como se fosse uma manta escura
Que tapa a luz dentro de nós.
A outra tristeza é mais implacável,
Não tapa a luz, apaga-a mesmo.

Talvez seja aquilo a que a Medicina,
Com a mania de explicar
Sentimentos com químicos e genes,
Chame de depressão.

A única tristeza que há em mim, Lídia,
É a primeira, porque o meu amor por
Ti impede que a minha Luz se apague.
Ah, acho que devia ter-te dado um beijo de despedida.

Sentir-te-ei sempre,
Mas quem sabe se te voltarei a ver?
Para quê tantos complexos
Se vamos morrer e não sabemos o que está do outro lado?

O vento acaba de me trazer uma carícia tua
E pergunta-me se quer que leve alguma coisa.
Leva um beijo meu, vento,
Para que possas sentir aquilo que devia ter feito.

Ás vezes somos fracos, sim,
Porque não nos chega uma promessa,
Porque desconfiamos,
Porque precisamos de provas.

Eu não quero mais nada de ti Lídia
Se não a tua felicidade,
E ouvir as tuas gargalhadas,
Nem que isso signifique outro homem.

Mesmo que isso aconteça
Serás sempre minha
Porque mantens a minha Luz acesa
E isso não impediu que apagasses a Tua.

Vai, Vento, leva-lhe um beijo meu,
Toca-lhe na face com suavidade,
Está na hora de ir ver o pôr-do-sol
E contemplar outra vez o teu Olhar.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Dificuldades

Há pessoas que passam a vida a queixar-se. A queixar-se da vida, da sorte, do azar, das circunstâncias, dos outros, delas próprias, de Deus... Como se fossem vítimas de algo que não depende delas, como se não fossem livres nem pudessem fazer as suas escolhas, como se o facto de nem tudo ser fácil seja logo uma razão para não fazer nada, desistir, e fazer a única coisa que sabem fazer bem: queixar-se. Mete-me nojo quem pensa que o mundo gira à sua volta, que por uma mínima dificuldade começam logo a dizer que a sua vida é péssima e desanimam logo, cujo maior problema às vezes é escolher a maquilhagem, uma peça estúpida qualquer de roupa, ou uma rapariga qualquer para engatar. Mas o que sinto ainda é pena destas pessoas, porque têm uma compreensão tão limitada do que as rodeia, porque os seus problemas são tão inúteis e mesquinhos, e ignoram uma série de valores. Se às vezes olhássemos melhor à nossa volta e víssemos tanta gente com mais problemas que nós e que continua em frente, sem se lamentar. Nunca ninguém disse que a vida era justa, nunca ninguém disse que tudo é fácil. mas assim as coisas que vamos conquistando têm mais sabor, e há todo um processo de aprendizagem que é interiorizado. Sim, no fundo tenho é pena porque ao não ter dificuldades e ao desistir estão a seguir o caminho mais fácil, mas menos digno e enriquecedor. Se vale a pena não ir pelo facilitismo? Acho que nem preciso de responder.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Espelho

Sê tu mesmo,
Olha para o mundo com os teus olhos
E não digas que vês outra coisa
Só por os outros dizerem.
De que serve andares a fingir que és outra pessoa?

Deixa as coisas saírem naturalmente,
Diz aquilo que tens a dizer,
Não deixes que o medo te deixe imóvel,
Pois o medo se o souberes enfrentar é inofensivo.
Um gatinho vestido de leão.

Se a vida for um teatro,
Não faças o papel de outra pessoa que não tu.
Se amas alguém,
Não a tentes conquistar oferecendo-lhe
Uma falsa imagem de ti.

Assim quando forem passear,
Se acabarem afastados
Sabes que não é ela,
Se acabarem de mãos dadas
Pode ser que seja ela.
E tudo sem mentiras e fingimentos.

Corres os risco de ter poucas pessoas
Que gostem de ti
Porque as outras, as falsas,
Só gostam de ti se fores
Algo que elas querem que sejas.

Não te preocupes com isso.
De que servem muitos se não
Compreendem o teu interior?
Vale mais poucos mas bons,
Com relações profundas e verdadeiras.

Sim, temos essa necessidade
De ter pessoas que testemunhem
A nossa vida.
Que saibam os nossos sentimentos,
As nossas ideias e dificuldades.

Mas isso não é mau,
Porque o teu coração precisa disso
E desde que cumpras uma condição:
Ser tu mesmo.

Não penses muito
Pensar demais ofusca
Saberes o que realmente queres
E o que realmente és.

Caso contrário
Perderás as oportunidades
Porque quando devias agir
Estiveste a pe(n)sar demais qual era o melhor.

Assim quando te estender a mão
Agarra-a se o que tu és
Está em harmonia com o que sou.

Se for desta maneira,
Reduzirás muitos problemas,
Pois alguns vêm de não espelhares a tua Alma.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Dia da criança

Hoje é dia da criança. Por todo o mundo montes de meninos devem ter chegado ao fim deste dia com enorme entusiasmo e alegria. Ir ao cinema, não ter aulas, fazer actividades ao ar livre, artes plásticas, torna este dia especial para eles. Mas no entanto o que eu queria falar é de todas as crianças que são, em termos físicos, adultas. Todas as pessoas que, apesar de todas as dificuldades, de todas as críticas, de serem forçadas pelo mundo a crescer e a ter os “alegados” comportamentos de adulto, de associarem o conceito de “criança” à ingenuidade, palermice, continuam com ela bem viva dentro de si.
O que é ser criança afinal?
Ser criança é oferecer uma flor como se fosse a coisa mais valiosa do mundo (e na verdade não será?) e receber uma flor como se de um diamante se tratasse.
Ser criança é esboçar um sorriso quando se olha as estrelas, quando se vê o pôr-do-sol, quando se vê um pequeno gesto de amizade e ajuda.
Ser criança é, como nos diz o Principezinho, olhar para um desenho “aparente” de um chapéu e ver uma cobra que engoliu um elefante.
Ou seja, ser criança é olhar com um sorriso e sorrir perante as pequenas e importantes coisas da Vida.