Sofro, Lídia, porque uso demais a razão.
Pensar incomoda mais que urticária,
É mais viciante que droga,
Faz com que as dúvidas nos consumam.
Se para quem sente o pior da vida é a morte
(no sentido literal),
Para quem pensa o pior da vida é nascer,
Soltar um choro silencioso.
Não porque o ar lhe doa nos pulmões,
Mas porque a consciência lhe dói na alma.
Não porque se sente desprotegido fora da mãe,
Mas porque percebe a ilusão em que vive.
Nasceu, porque perdeu a ingenuidade.
É como quando, ao longe,
Parece que vemos uma linda flor amarela,
E queremos ir mais perto para contemplá-la.
Mas quando nos aproximamos,
Reparamos que afinal se trata de um ramo pálido.
A partir daí, mesmo que queiramos ver de longe,
A imagem da flor esvaner-se-á sempre.
Assim como quando se perde a ingenuidade,
Por mais que a tentemos recuperar,
Dificilmente voltará.
Quem me dera não ter chegado perto da flor.
Quando vejo os teus olhos, Lídia,
E sinto a tua cabeça encostada no meu ombro,
Sinto o meu coração estremecer,
Por breves momentos vou recuperando a inocência perdida,
Somos meras crianças,
Brincando com as estrelas.
Embala-me, Lídia, com o teu doce sorriso,
Deixa-me só ver flores, onde a palidez reina.
Mas já não estás comigo,
Foi-se o meu coração,
E os sonhos cor-de-rosa.
Que no fundo nada eram.
Para ser feliz, sê criança:
Olha o mundo com os olhos de uma.
Só assim deixarás de pensar,
E amarás, porque nada mais existe.
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