sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Pensei que já não te voltarias a sentir assim. Ou pelo menos saber melhor lidar, afastar esse sentimento. Fraco.

Adoro chuva. Neste momento, caminhar sem guarda-chuva, de manga curta, é o melhor que me podia acontecer. Como tenho a vontade de começar a correr. Ou simplesmente parar e ficar a absorver as gotículas assim como o cérebro absorve as palavras de um livro que está a apreciar. Como adoro esta chuva. Como amo esta melancolia. Faz-me sorrir. É o estado natural de todas as coisas: a melancolia, a tristeza, a doce noção de que nada vale a pena e tudo é inútil. Será que estas pessoas que vão nos automóveis já  perceberam isso? Quer o tenham feito ou não, para elas também é indiferente. Dormem. Eu também quero dormir. Adoro esta chuva. Nos prédios, as luzes dos apartamentos começam a acender-se. Imagino o que aquelas pessoas fazem neste preciso momento. Será que alguma delas olha para o relógio e se apercebe a passagem inexorável e eterna do segundos? Infelizmente estou quase a chegar ao carro. De qualquer forma, também não convinha continuar muito tempo pois não seria agradável o espectáculo de chegar a casa totalmente molhado. Abro a porta. Silêncio. Ligo o rádio, nenhuma música me agrada. Desligo. Deixo-me estar a saborear o Silêncio, deixo a mente divagar. Imagens aparecem e desaparecem, farrapos de pensamentos vão e vêm. As palavras vão flutuando na cabeça, como os destroços de um navio boiam no mar após um naufrágio. As gotas vão batendo no pára-brisas. Sigo o percurso delas através do vidro. Adoro chuva.

Já chega. Volta para a realidade.

Digo para mim:
Estás só. Ninguém o sabe.
Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada esperes que em ti ja não exista, 
Cada um consigo é triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte é dada.

Liga a ignição do carro.  Dorme.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Se algum dia te tivessem perguntado, Sophia,
Que pessoa era aquela a quem davas a mão,
(Com pouca firmeza e segurança, acrescentemos)
Devias ter-lhes declarado que era ninguém.

Porque alguém que disfruta docemente do Silêncio,
Adora veementemente a Solidão,
Repudia tranquilamente a Felicidade,
Nada mais é que ninguém.

E se algum dia eu te tivesse perguntado, Sophia,
Porque não percebes a profundidade do meu olhar,
Porque não sentes em pleno os meus pequenos gestos,
Devias ter-me explicado que era ninguém.