terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

 A sua filha ia hoje lindíssima, vestida de princesa, disfarce do qual a maioria das meninas gosta de usar no Carnaval. De repente a mãe começou a pensar no futuro, no ano em que ela deixaria de querer vir vestida assim e depois no ano em que deixasse de acreditar na inocência da vida e na magia das coisas. As suas cogitações foram interrompidas pela interpelação da filha:
-Mãe, é verdade que os quase todos os adultos não se mascaram porque deixaram de achar piada ao Carnaval?
-Hum, parece-me que também é por causa disso, mas acima de tudo penso que os adultos passam o ano todo a fingir que são outras pessoas, por isso já não sentem que é preciso mascararem-se nesta altura...
-Não entendi, mãe...
-Pensa assim: no fundo os adultos são como actores, a partir de uma dada altura da vida passam a representar um papel, a agir de acordo com o que acham que as outras pessoas querem de si.
-Tu também és assim mãe?
-Às vezes também sou, mas tento sempre não ser.
-Pois olha, eu digo-te já, quando for grande não vou ser como esses adultos esquisitos!
A mãe olhou para a filha, e entristeceram-se os seus olhos:
-Um dia vais perceber, filha, que por mais que lutes para te desprender das correntes, elas manter-te-ão sempre agarrada ao lado de dentro da caverna.
Nada mais a filha disse. E a mãe não saberia que apesar de neste momento não as ter percebido, a filha nunca mais se esqueceria destas palavras.