
Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada esperes que em ti já não exista,
Cada um consigo é triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte é dada.
O Hallelujah está mais tranquilo. Vai-se purificando, tal qual uma pedra se vai alisando pela água do rio, vai-se transferindo de um estilo fulgurante Alexandra Burke para um mais suave (e talvez mais profundo) Jeff Buckley. E tal como a pedra sofrerá erosão dia após dia, ano após ano, destinada ao desaparecimento, o Hallelujah irá ficando cada vez mais longínquo, e cada vez mais puro, até acabar por ser esquecido. Mas não foi isso que me fez escrever este texto. A vida passa, as pessoas mudam, o tempo avança, e nós também precisamos de avançar. Muitos Hallelujah’s passaram, muitos momentos foram aqueles em que a dor de ouvi-lo era enorme. Chegou a altura não de esquecer o Hallelujah, mas de colocá-lo no sítio devido, num lugar no coração onde só há magia e sonho, e a tristeza não existe. Chegou a altura de deixar de ter pena de mim mesmo, de amaldiçoar o tempo e lamentar o seu avanço inexorável. No fundo, é aquela sensação de que não se conseguiu ainda ultrapassar, como um marinheiro que todos os dias contempla o oceano imensas horas com saudade da altura em que as ondas eram o seu mundo.
Viveu-se hoje um Hallelujah assim tremido, algures entre o passado e o presente, condicionado por tudo o que o tempo levou com indiferença, misturado por lágrimas tímidas de cinzas e diamantes. Suave, tal como o pé que sente o toque do musgo das pedras do riacho. E não sei que mais hei-de escrever, porque as palavras são limitadas, é como tentar colocar a beleza de um arco-íris e a melancolia da chuva num papel.
Tal como o estudante que promete que para a semana é que se agarra aos livros, sei que o marinheiro continuará a ir para a praia, sentindo a dor da saudade e a alegria do sabor leve a maresia. Mas assim como sei que não irei avançar, também sei que acredito demasiado neste Hallelujah para dizer que ele está destinado ao esquecimento. Aquilo que está no coração acabará por durar para sempre, porque isso fará com que cada gesto seja diferente, cada palavra mais profunda, cada respiração seja Aleluia. Fará com que alguém neste momento escreva um texto que no fundo poderia ser sintetizado numa simples e mágica palavra: Amizade.
Este é o Nosso Hallelujah, para sempre.