sábado, 12 de março de 2011

Urgente: Sobre o Merkl Sinal


Sempre que as finanças portuguesas estão em apuros, um sinal aparece no céu: é o Merkl sinal, o sinal projectado por Teixeira dos Santos na abóbada celeste, que consiste na imagem desta super-heroína alemã. Mas esta mulher com super-poderes, que consegue que o seu país suba acima de 2 por cento no meio de uma Europa com um crescimento anémico, não acode o Ministro das Finanças sem algo em troca, pois é, tudo tem um preço na vida, excepto aquilo que levam ao Fernando Mendes no Preço Certo. Ao contrário do que estão a pensar, Merkl não quer passar uma noite escaldante com José Sócrates, nem com o seu clone Pedro Silva Pereira, mas sim algo que inunda os nossos noticiários: a austeridade.

Este palavrão, a austeridade, tenta ser uma espécie de lipo-aspiração para uma pessoa gorda, que começa a sofrer de obesidade mórbida, e que quase nunca consegue perder os ácidos gordos e triglicerídeos: é a despesa pública.

Aviso-o já, se se deparar com ela na rua, fuja! Apesar da sua aparência inocente e seráfica, ela mais tarde ou mais cedo irá ao seu bolso, sob a forma de impostos e outras medidas camufladas, tornando a sua carteira num albergue de teias de aranha. Fuja, se possível para outro país, se já não tem dinheiro feche-se na casa de banho (ficar lá trancado não serve de nada, mas sempre se distrai com o mau cheiro).

Esta pessoa perigosíssima, a despesa pública apesar de corpulenta, movimenta-se com celeridade e é omnipresente: está em vários lados ao mesmo tempo, desde a panóplia de organismos públicos, passando pelo BPN, até aos estudos e processos de consultadoria atribuídos sem concurso. E porque depois de uma notícia má vem outra a seguir, tenha cuidado porque a despesa pública deu à luz um filho, que tem vindo a criar desde os anos 70, e é, diria, mais assustador que a sua progenitora. Esta criança é maléfica, gosta de submarinos como quem gosta de gomas, idolatra juros das obrigações do tesouro acima de 7% como quem adora chocolates, e à sobremesa o que prefere são recessões. Já deve ter percebido de quem se trata, claro, é o défice público.

Ele possui um primo, que tem vindo a crescer igualmente forte e saudável, aproximando-se de 10% do PIB: o défice externo. Mas não dispersemos, voltemos ao défice público. Esta criança todos os anos vai construindo um robot que ameaça ser o expoente máximo da sua malvadez, com braços de obrigações, pernas feitas de passivos da Administração Central, e tronco volumoso de títulos de dívida de curto prazo e bilhetes do tesouro, este robot denomina-se dívida pública, vale mais de 80% do PIB e ameaça num futuro próximo ser devastador, caso não se impeça que o seu criador o acabe de construir.

A super-heroína Merkl possui um animal altamente exigente e hostil: é a espécie Jeanus Trichetidae, um canino que agora mostra os dentes, prometendo morder-nos elevando os juros. Para consolo, digo-vos que o Merkl sinal é emitido com energia proveniente de um parque onde Sócrates gosta de brincar com os seus blindados, o parque eólico. Aviso-vos de que de nada adianta materializar a raiva pegando em martelos para destruir o Merkl sinal, pois não é essa a solução. Pensa-se que já se adianta com outra solução: criar o Coelho sinal, não dirigido a Passos Coelho, mas sim o sinal que se emite para o céu pedindo ajuda a José Manual Coelho, o homem que nos iria salvar da corrupção e trazer a justiça ao nosso país, seja lá o que isso for. Talvez se, de há uns tempos para aqui os nossos governantes, que eu chamarei agentes maximizadores de votos (AMV), tivessem sabido investir, esta criança tivesse sido logo abortada. Estes AMV são seres inteligentes e bastante matreiros, que dão torresmos, batatas fritas e outras gorduras à despesa pública, principalmente nos anos de eleições, coincidência, não?

Esta mensagem é para todos os portugueses: não há nenhum sinal que mande vir nenhum super-herói que nos salve, nem podemos contar com os AMV. Para além de revolta, temos que mudar de atitude, ter uma cultura de trabalho, pois é isso que mais irrita a criança do défice público. Só para terminar, queria só apresentar-vos mais um interveniente, que é também bastante nosso conhecido: são os Mercados. Não é substantivo singular, não são uns mercados, são os Mercados, que nos massacram com juros que nos levam a pagar o dobro daquilo que pedimos daqui a 10 anos, e são implacáveis. Nós já os ajudámos em 2008, quando tinham problemas, mas eles têm a memória curta, no fundo os valores pelos quais se regem são idênticos à maioria dos AMV, ou seja, são inexistentes. Confesso sinceramente que enquanto ando na rua a coisa de que tenho mais medo é de que me apareçam os Mercados à frente mal vire uma esquina, se os vir, ao tentar fugir, não faça movimentos bruscos, eles são bastante temperamentais e instáveis. Acima de tudo não fale porque lá dizia o nosso José (Durão) Barroso: temos que ser comedidos nas palavras, porque os Mercados nos estão a ouvir. Ora se o Presidente da Comissão tem medo deles, o que há-se ser de nós!

Deixo este último parágrafo para deixar duas notas: fiquem descansados que o Coelho sinal já está a ser construído, se for como uma obra pública espera-se que esteja pronto daqui a daqui a 10 anos, o que sempre é menos que 11, penso eu, que nunca fui muito bom a fazer contas. Talvez amanhã me apresente no Ministério das Finanças, devem-me dar logo um emprego. A outra nota é que por mais austero que o ambiente pareça, a gente vai continuar, não dramatizemos, já vivemos coisas bem piores, a gente vai continuar, pá.