A princípio estava difícil de acender mas o vento lá deu uma ajuda. O fogo é algo curioso: parece que se vai extinguir, mas basta colocarmos um combustível para reaparecer das cinzas, literalmente. É o que dá depender de algo e destruí-lo para existir.
O vento parecia que brincava com o fogo como uma criança com plasticina. Imagino que esta fogueira para ele seja uma bola mínima, que lhe não dá prazer nenhum de moldar, assim como uma criança ignora um pedacinho mínimo de plasticina. Logo ele não faz o fogo ondular porque se diverte, mas unicamente porque simplesmente tem que passar
O céu estava nublado, prometia chuva, não podia ver as estrelas. Mas imaginava-as lá atrás e podê-las imaginar ainda é melhor, a realidade limita as coisas. Começou a cair uma chuva miudinha. Parecia que fazia cócegas na pele. Talvez nesta altura o fogo tivesse sentido medo, uma vez que aparecia o seu eterno rival, o seu eterno vencedor. No entanto, talvez o seu medo não viesse daí, dado que de qualquer forma, a sua existência é bastante efémera.
O fogo tem algo que nos enfeitiça, podemos ficar a olhar para ele tempos infindos... Provavelmente porque seja um reflexo do fogo que há em nós: tanto é luz no meio da escuridão, como nos consome.