domingo, 23 de maio de 2010

Ricardo Reis Revisited

Ah, Lídia, tanta coisa poderíamos ver,
Tanta coisa visitar,
Tanto mundo por explorar,
Mas fiquemos aqui.

Para mim basta-me sentir o toque da tuas mãos,
O cheiro suave dos teus cabelos
E a doçura do teu olhar.
Não preciso de mais nada.

Deixemo-nos estar aqui sentados,
A conversar sobre coisas inúteis ou profundas,
Em serena harmonia,
Somente os nossos corações sozinhos.

Passamos a vida a entreter-nos,
Digo-te eu Lídia,
Enquanto vejo aquele rosto alegre
Das pessoas que passam à nossa frente.

Porque mais tarde ou mais cedo,
Por mais que andemos ou corramos,
A tristeza espera-nos no fim,
Sombria e implacável.

És livre Lídia,
Podes ir embora e deixar-me.
Porque só há beleza quando há liberdade,
Não se deve arrancar uma flor do jardim.

Caso contrário acabará por murchar.
A beleza fez-se para contemplar,
Não para ser presa nem amarrada.
Um pássaro na gaiola deixa de ser belo.

Porque a verdadeira Beleza
Vem do interior,
Aí é que está a sua essência.
O exterior é só uma manifestação.

Por isso é que o mais importante
Em ti, Lídia,
É olhar para os teus olhos
E ver o rosto da tua Alma.

Vai, Lídia, não te preocupes comigo.
Quem ama é livre e deixa em liberdade.
Percorre o Mundo,
Porque o tempo já é pouco.

Lembrar-me-ei de ti
Em cada gota de orvalho,
Em cada raio de sol,
Em cada dia passado.

E quando ao fim do dia
Contemplar o pôr-do-sol
Esboçarei um sorriso,
Pois estou a ver a imensidão do teu Olhar.